O CIP agiu como assessor da violência eleitoral
Por Egidio Vaz
O
Boletim de Observação Eleitoral do Centro de Integridade Pública publicou na
sua edição de ontem um conjunto de inverdades sobre o resultado da votação de
15 de Outubro. Este boletim é editado por Joseph Hanlon, um britânico que se
engraçou por Moçambique e cá viveu e trabalhou como jornalista pouco depois da
independência do país. Pelo tempo e pelo seu trabalho, Hanlon preenche os
requisitos formais para adquirir a nacionalidade moçambicana.
O
Boletim de Observação Eleitoral é um subproduto do projecto eleitoral do Centro
de Integridade Pública. Hanlon edita o boletim do processo político moçambicano
em inglês, servindo de principal referência à comunidade diplomática ocidental,
quem a patrocina e aclama. O Boletim nasceu com a AWEPA, associação dos parlamentares
europeus que por muito tempo teve programas em Moçambique.
IDENTIFICADOS QUE ESTÃO
AS PERSONALIDADES, VAMOS AO ESSENCIAL
A
recente publicação do CIP afirma que “pelo menos 478 mil votos e 5 assentos
foram retirados da Renamo nestas eleições”. Esta conclusão é baseada na
contagem paralela do EISA - Instituto Eleitoral da África Austral, que cobriu
2507 mesas das 20162 existentes, ou seja 12.43% das mesas. Do seu
"estudo", o CIP “descobriu" cinco tipos de irregularidades,
nomeadamente:
1. Flagrante enchimento de urnas, medido
pelo nível de afluência excepcionalmente alto e um número maior de votos para
um candidato, com base no PVT.
2. Votos retirados de um candidato através
de sua invalidação durante a contagem, ou pelo contrário, incluindo-os de
outras maneiras com votos em branco ou nulos, com base no PVT
3. Avaliar a diferença entre o número
total dos votos para eleição presidencial e para a eleição dos membros da
Assembleia da República (AR) para ver se houve ou não enchimento de urnas na eleição
presidencial.
4. Avaliação do sobre-recenseamento na
África do Sul.
5. Avaliação do sub-recenseamento na
Zambézia.
Para
começar, perguntas simples:
Como
é possível estimar 478 mil votos à favor da Renamo, numa eleição onde
concorriam outros partidos? Os observadores do EISA contaram os votos inválidos
da Renamo? E os da Frelimo? E s do MDM? E os do MONARUMO? Quantos votos foram
invalidados?
André
Magibire, Secretário-geral da Renamo afirmou antes das eleições que o número de
recenseamento não era problema e que iriam disputar os assentos ao nível de
todas as províncias e ganhá-los-ia. Ele afirmou isso convicto de que o voto era
secreto, que a campanha e a mensagem eram determinantes para cativar o
eleitorado ao seu favor. Não entendo como Hanlon introduz novos elementos na
sua análise ao se referir ao processo de recenseamento. Em todo processo
eleitoral, a Renamo nunca mobilizou as suas bases. Fez o contrário. Mesmo
assim, teve 45 dias para fazer campanha. Destes, a Renamo paralisou pelo menos
12 dias para “reflexão”. Como ele estabelece o nexo entre o recenseamento e o
voto a favor da FRELIMO, num contexto onde a afluência às urnas se situa a 51%.
Como ele pode corrigir a margem de erro?
Como
é que Joseph Hanlon consegue extrair os dados de “enchimento de urnas” a partir
do PVT do EISA? Como?
AGORA FALEMOS DOS NÚMEROS
As
organizações ou consórcios da observação eleitoral que mais observadores tinham
são a Sala da Paz e EISA. O EISA tinha esses 2500+ e a Sala da Paz tinha por
ali 3000. O CIP tinha 200 observadores jornalistas. O CESC tinha um número
insignificante para além de não entender nada de eleições. O FORCOM tinha 200
jornalistas das Rádios Comunitárias. E muitos dos observadores do CIP e FORCOM
eram mesmas pessoas (os tais correspondentes). A Missão de Observação Eleitoral
da União Europeia monitorou algumas mesas em 51 distritos de um país com 154
distritos. A Missão de Observação dos EUA tinha 22 equipas de observação
Eleitoral. Estes dados mostram a
pequenez e insignificância representacional das amostras, que do ponto de vista
de inferência estatística constitui um estupro ao espírito científico. A
estatística é uma ciência logica que se guia por práticas transparentes. Na
ciência estatística, não espaço para boato ou especulação.
TODAS AS MISSÕES DE
OBSERVAÇÃO ELEITORAL ENDOSSARAM AS ELEIÇÕES
As
missões de observação eleitoral guiam-se por critérios de observação
objectivos. Baseando-se neles, TODAS organizações nacionais e internacionais
afirmaram que as eleições observaram no geral, tais critérios, apesar de
algumas irregularidades. O relatório do EISA, CDD, Plataforma Monitor, Sala da
Paz, todos estes corroboraram com a generalidade das ilações. Os relatórios
preliminares de organizações internacionais como União Africana, União
Europeia, SADC foram unanimes neste sentido. Só agora, a União Europeia
trabalha para alterar o sentido da observação, já quando os parlamentares que
cá estiveram e viram o processo abandonaram o país. A União Europeia em Maputo
devia perguntar os parlamentares da União Europeia que estiveram nas mesas, no
terreno; estes que fizeram o primeiro relatório. Ao tentar mudar a versão,
estamos perante uma atitude de má-fé. Depois de ouvir o CIP, a União Europeia
está a abandonar os dados dos seus próprios observadores para avançar na
subjectividade.
ESTAS ELEIÇÕES FORAM MENOS
CONTESTADAS
Olhando
para as reclamações do processo eleitoral, podemos ver que foram as menos
contestadas. O MDM não submeteu nenhuma. Entre 6-7 partidos submeteram os
recursos parciais. O Conselho Constitucional fala de 55 processos dos quais 53
já foram resolvidos. Registaram-se aproximadamente 130 irregularidades ao nível
nacional, segundo o Presidente da CNE. Se as eleições tivessem sido
incredíveis, os tribunais de primeira instância estariam cheios de recursos.
Mas não existem. Só existiram 55. Alguém quer me convencer que seriam com 55
recursos na primeira instância que se ganharia eleições.
AFINAL, O QUE SE PASSA
COM O CIP?
O
CIP e outras tantas organizações que não tinham observadores no terreno estão
agora a primar pelas análises subjectivas dos resultados eleitorais,
alimentando pelo caminho, o argumentário pró-violência da Renamo. Agindo assim,
o CIP municia a Renamo com um discurso especulativo que o ajuda a atormentar o
povo , a se mobilizar para a violência e a deturpar os factos tal como eles
aconteceram.
NEM O CIP, nem o EISA tiveram os editais das
mais de 20 mil mesas de votação. O EISA, segundo consta, tem pouco mais de 2
mil editais apenas. A Sala da Paz tem pouco mais de 3 mil. Como alguém com 2
mil editais quer fazer a matemática e inferir sobre um universo bem longe do
seu alcance?
ABAIXO EXPECULAÇÃO
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